tira-07-10-09-webUm sonho. A viagem para Porto de Galinhas não pode ser definida de outra forma. A intenção era reunir blogueiros de várias partes do país para conhecer e divulgar as delícias das praias de Ipojuca (o município, situado em Pernambuco) e arredores. Seguindo a linha do fantur e do presstur (que são passeios oferecidos a guias turísticos, agentes de viagem e jornalistas), nosso evento inaugurou uma nova categoria: o blogtur.

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Quase 50 participantes deixaram a equipe de organização doida e fizeram a festa acontecer. A praia de Porto de Galinhas é considerada a mais bonita do Brasil, portanto não pretendo falar mais sobre as incríveis belezas do lugar. Muitos convidados já publicaram suas impressões sobre o encontro, como o Flávio, Max, Dani, Rafael… As fotos estão agregadas num grupo do  Flickr – e tem até vídeo comigo cantando no meio do mangue!

O (extenso) material está interessantíssimo, mas a minha contribuição pra vocês é um relato sobre pessoas que conheci lá. Acredito muito na riqueza e no potencial do nosso povo – além de adorar ouvir e contar histórias…

Dona Maria e eu

Dona Maria
No primeiro dia, partimos para o interior num comboio de jipes, a fim de conhecer um engenho em Nossa Senhora do Ó e duas belíssimas cachoeiras. No caminho, é triste constatar a realidade dos cortadores de cana da região, que ainda se sustenta com a produção canavieira. Chegando ao tradicional Engenho Canoas, conhecemos o processo de destilação da cachaça. Enquanto o povo degustava os produtos, fui conversar com dona Maria, uma senhora de quase sessenta anos que trabalha desde criança moendo artesanalmente a macaxeira para produção de farinha e beiju. Ela tem uma casinha muito simples atrás da casa grande, onde mora o verdadeiro ‘senhor de engenho’ do século XXI – que, segundo ela, é bastante bagunceiro e larga tudo espalhado por onde passa. Dona Maria é hospitaleira, de sotaque carregado, olhar arredio e adora falar sobre seu trabalho. Ela não estava preparada para a visita, largou roupa pra lavar em uma bacia e correu pra arrumar-se e nos receber. Fez questão de colocar duas bananas na minha bolsa “pra você comer depois”. Naquele dia, essa pequena gentileza salvou, já que o almoço saiu tarde. Dona Maria não toma cachaça.

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Juca contando histórias à beira da cachoeira

Juca
No caminho para as cachoeiras, no município de Primavera, mais canaviais e vilas muito simples, com moradores nas janelas e calçadas nos observando, curiosos. Os varais das casas são todos virados para fora, e as roupas coloridas dão um ar festivo às vielas, como observou a Lilian. Foi na cachoeira do urubu que conheci Juca, um menino de dezessete anos que impressiona pela capacidade de comunicação em diversos idiomas – alemão, inclusive. Cheio de filosofias, o menino conta que perdeu a mãe, mora com a avó e vive como ‘guia informal’ dos turistas que ali chegam. Na hora pensei: “Juca é daqueles que só precisa de um empurrãozinho para crescer na vida”. É um garoto muito interessante, olhos escuros e profundos. Antes de irmos embora, afirmou, sem tristeza: “agora você vai embora e a gente nunca mais vai se ver”. Quando partimos, perguntei ao motorista do jipe sobre ele e os outros meninos que nos abordaram. Ele apontou um que ia ao lado do Juca e disse: “Tá vendo aquele de camisa amarela? Todo dia ele diz pros turistas que está fazendo aniversário, o safado” – e riu.

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Tiago
Tiago é guia de turismo e instrutor de capoeira em uma ong. Chama a atenção pelo profissionalismo e pela forma apaixonada com que fala sobre a história de Ipojuca e do Nordeste como um todo. Tem a pele bem morena, olhos claros e físico invejável. Nos acompanhou em alguns momentos, sempre solícito e simpático. Disse que gosta muito de levar o pessoal da terceira idade aos passeios. E contou que, há pouco tempo, convenceu sua própria avó, já bem idosa, a tomar um banho de mar. “No começo ela ficou com medo, disse que não ia, mas depois ficou lá, que nem uma criança e não queria sair mais”, declarou, com um sorriso cheio de afeto. Tudo isso ele me contava no jipe, enquanto paisagens encantadoras emolduravam nossa conversa. Seus olhos se enchem de indignação quando fala sobre estrangeiros que visitam o país em busca de turismo sexual com crianças. Reflete bastante sobre sua vida profissional, diz não conseguir se imaginar confinado num escritório e confessa que seu próximo objetivo é trabalhar em projetos de defesa do meio ambiente. Além de tudo isso, o cara dança um forró arretado!

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E essas são apenas algumas das histórias… Recomendo a todos que conheçam a cidade de Ipojuca, onde está localizado Porto de Galinhas. Sei que as diferenças sociais são ainda abusivas, principalmente no nordeste dessa nação, mas acredito que o crescimento do turismo esteja abrindo novas perspectivas – e, obviamente, a ajuda da administração local será sempre fundamental para criar oportunidades e construir um futuro mais justo e digno junto a essa brava gente. Por isso, governantes, façam sua parte! A responsabilidade de vocês é tão grande quanto o coração do povo que os elegeu.

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Pôr-do-sol no mangue

Agradecimentos
Posso afirmar que todos ficamos extasiados com a receptividade e o carinho com que fomos tratados durante todo o evento. Éden, Cláudia, Buchecha e cia. fizeram um milagre reunindo tanta gente diferente de forma pacífica e agradável. O pessoal da prefeitura (Diego, Rebeca e Naide), os funcionários do Summerville, onde me hospedei, e os guias da Luck Receptivo também foram incríveis. Sem falar na galera que nos transportou incansavelmente para todo lado, desde a TAM Linhas Aéreas até os simpáticos bugueiros, jangadeiros e motoristas. A todos, muito obrigada e até a próxima!